9 de mar. de 2013

La educación no se vende... se defiende!

Quando uma empresa pública é privatizada, seja de qual ramo for, o grupo comprador (singelamente rotulado como "concessionário") tem em vista o lucro. Afinal, não é necessário ler todo o Das Kapital na língua de Goethe para compreender que o capitalismo é movimentado no sentido da obtenção do lucro.

Na história recente do Brasil, grandes empresas públicas, altamente lucrativas, foram privatizadas sem a menor cerimônia, como é o caso da Vale do Rio Doce. Outras, menores e menos lucrativas, também foram para a privada (não pude evitar o trocadilho), caso da Light ou da Barcas-S.A. A Vale cresceu, pois os investimentos se justificavam à medida que alavancariam sua lucratividade. Já a Light e as Barcas prestam serviços sofríveis, pois seja investindo ou deixando do jeito que está não vai alterar seus respectivos ganhos. Resumindo: como em qualquer outra empresa, pública ou não, o investimento é justificado pelo ganho esperado.

A educação privada é uma prestação de serviço. Assim como vamos à oficina consertar o carro e pagamos por este serviço, algo análogo acontece com as escolas particulares. Pensando por esse ângulo, se o proprietário do automóvel for abastado, leva seu Jaguar último tipo à autorizada e deixa lá uma pequena fortuna. Se for o dono de um fusquinha, leva na oficina da esquina. Assim também funciona com a educação. Há escolas cujas mensalidades são bem maiores que o salário do professor, e outras bem mais em conta. E a qualidade do serviço prestado costuma variar tanto quanto os valores cobrados. No fim da história, é o lucro que mantém tanto as oficinas quanto as escolas privadas funcionando.

Depois de tantos rodeios e explicações, vamos ao ponto: como funciona a privatização do ensino público? Conforme desenvolvemos até aqui, qualquer resposta deve ter por base a obtenção do lucro. O maior e mais próximo caso de privatização do ensino público ocorre no Chile. Por conta de uma série de medidas tomadas ainda no governo do ditador Augusto Pinochet, esse país possui um dos sistemas educacionais mais desiguais e caros do mundo (dados da Organização e Cooperação para o Desenvolvimento Econômico - OCDE). No país hermano, as universidades são pagas, e apenas cerca de 40% dos secundaristas estão no ensino público. Em 2011, milhares de estudantes e professores chilenos tomaram as ruas em protesto contra tal situação, e foram recebidos pela polícia com grau de violência que lembra muito os tempos de ditadura naquele pais (e no nosso, infelizmente).
 
  
 


Não é de hoje que grupos ligados aos empresários tentam privatizar a educação brasileira. Certamente deve ser uma excelente fonte de lucros para empresários e grupos especuladores, ávidos por engordarem seus cofres.

Pois o governo do município do Rio de Janeiro, que tem Eduardo Paes como prefeito e Cláudia Costin como secretária de educação, inaugurou a iniciativa de privatizar o ensino público da cidade. Por trás de uma série de siglas vazias de significado estão empresas de diferentes portes. Primeiro vamos às denominações: Ginásio Carioca, Ginásio Experimental de Novas Tecnologias, Escola do Amanhã, Ginásio do Samba, Ginásio do Esporte, Acelera, Se Liga, entres outras denominações ao gosto e imaginação dos burocratas que se reúnem na sede da prefeitura (prédio sem vistoria dos bombeiros nem habite-se, popularmente conhecido como "piranhão"). Todas capitaneadas pela dupla Paes-Costin. Aliás, Claudia Costin é uma economista que já foi ministra da Administração. Este, nada mais era do que um cargo burocrático criado para desburocratizar o funcionalismo federal! Com altíssimo grau de rejeição entre os profissionais do ensino, e acreditando com veemência que o professor brasileiro tem "nível muito baixo", a economista traça os caminhos de entrada de grandes empresas no processo de privatização do ensino: Fundação Telefônica|Vivo, Instituto Natura Intel, MSTech, Tamboro, Instituto Ayrton Senna, Instituto Conecta, Mind Lab, Microsoft, Sapienti, Cultura Inglesa, EvoBooks, Fundação Lemann, Cisco, Pete e Geekie. Para dourar a pílula, camuflam suas relações com o poder público por meio do código "parceria".

Aqui vale um adendo, o sistema de aula do futuro, também permeado por uma série de nomes sem o menor conteúdo (educopédia, escola 3.0, rioeduca, e outros), nada mais é que uma série de programas mequetrefes que qualquer grupo de estudantes de TI desenvolveria em troca de uma bolsa de iniciação científica (sou também programador, o que me habilita um pouco mais a analisar esse ramo). Porém, o "sistema" custou milhões e é uma bela tranqueira tanto do ponto de vista pedagógico quanto computacional. Notemos que a principal empresa desenvolvedora, MStech, já andou metida em maracutaias na Secretaria de Educação do Estado de SP, durante o governo Serra, com projetos aos moldes que estão implantando no Rio de Janeiro. Indo além, um de seus proprietários, Eduardo Martins Morgado, trabalhou no MEC, de 1996 a 2004, como consultor ad hoc na elaboração de editais e manuais técnicos junto à Secretaria de Educação a Distância - Programa Proinfo; também na elaboração de Editais de compras de microcomputadores e suporte às Comissões de Licitação, e como Coordenador Técnico do Projeto RIVED/MEC/UNESCO.

Com o currículo desse pessoal, há alguém que ainda acredite que a educação do Rio de Janeiro está trilhando o caminho correto? Será que empresas se metem na educação pública por caridade?

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.




Ler mais: http://namarianews.blogspot.com/2009/06/o-maravilhoso-mundo-dos-projetos.html#ixzz2N6NBCH3J
http://noticias.terra.com.br/educacao/chile-estudantes-e-docentes-pedem-educacao-gratuita-e-de-qualidade,4efb42ba7d2da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
http://veja.abril.com.br/010798/p_048.html
http://noticias.terra.com.br/educacao/chile-estudantes-e-docentes-pedem-educacao-gratuita-e-de-qualidade,4efb42ba7d2da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
http://www.segs.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=109355:-escola-fundamental-na-favela-da-rocinha-no-rio-de-janeiro-usa-tecnologia-sapienti-para-saltar-para-o-futuro&catid=50:cat-demais&Itemid=331

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